quarta-feira, 25 de julho de 2012

A Repórter Carla França e Rafael Barbosa
do Tribuna do Norte detalham todo roteiro e
desfecho do mais longo sequestro no RN

LEIA NA ÍNTEGRA A MATÉRIA PUBLICADA EM TRIBUNA DO NORTE

Ação policial liberta jovem
 sequestrado há 37 dias

Após uma ação de 45 minutos das policias Civil e Militar chegou ao fim o mais longo sequestro da crônica policial potiguar. No início da tarde de ontem (23), após 37 dias de cativeiro, o estudante Porcino Fernandes da Costa Segundo, Popó Porcino, foi resgatado em uma casa localizada na praia de Pitangui, litoral Norte. No confronto, um dos sequestradores foi morto, outro ferido e três, entre eles uma mulher, foram presos.


O sequestrador morto foi identificado inicialmente como José Erisvan, mais conhecido como Cabeça. Anderson de Souza Nascimento ficou ferido, foi levado para o Hospital Santa Catarina e passa bem, segundo informações apuradas até o fechamento desta edição. No local do cativeiro foram presos Paulo Victor Lopes Monteiro (25), que é filho de um coronel aposentado da Polícia Militar do Ceará, a namorada dele, Bruna de Pinho Landim (22). Em uma ação no Conjunto Pitimbu, a polícia prendeu José orlando Evangelista da Silva (42). De acordo com informações da polícia todos os sequestradores são naturais do Ceará.

Cerca de 40 homens participaram da operação de resgate que teve início às 10h30, momento em que chegaram ao local do cativeiro. Os policiais ficaram alguns minutos analisando a melhor estratégia para resgatar a vítima. A invasão da casa aconteceu por voltas das 11h da manhã da terça-feira.

Segundo o secretário adjunto da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social, Silva Júnior, da entrada da polícia na casa até o momento em que Popó Porcino foi encontrado passaram-se apenas dois minutos. "Quando entramos na casa os sequestradores reagiram e houve confronto com os sequestradores, que atiraram. Enquanto isso fomos ao encontro de Popó, que ao nos ver disse: 'Graças a Deus que vocês chegaram", disse o adjunto da Sesed.

Ainda de acordo com Silva Júnior, o empresário estava aparentemente tranquilo, sem ferimentos, mas acorrentado em um quarto. Ele não sofreu nenhuma agressão física, mas foi ameaçado de morte a cada nova notícia publicada pelos blogs.

O jovem teve os cabelos raspados para dificultar a sua identificação durante o transporte. Isso porque, durante esses 37 dias, Popó ficou preso em dois cativeiros diferentes: um em Parnamirim e o outro em Pitangui, onde foi resgatado. Os três sequestradores presos foram encaminhados para a Deicor onde prestaram depoimento até o final da tarde de ontem. Por medida de segurança, a polícia não informou o local para onde eles foram transferidos.

INVESTIGAÇÕES

A delegada titular da Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime, Sheila Freitas, informou que, a pedido da família Porcino, a polícia se manteve afastada das negociações, mas não se omitiu quanto às investigações. "Tomamos conhecimento do caso no dia 18 de junho e começamos a trabalhar de imediato. O importante para nós não era prender os acusados e sim trazer Popó de volta com vida para a família", disse.

O primeiro contato dos sequestradores com a família Porcino foi feito 15 dias depois do sequestro, em 1º de julho.

Sheila Freitas confirmou a informação foi negociado o valor do resgate, mas garantiu que nenhuma quantia foi paga. Questionada sobre os valores pedidos pelos sequestradores, a titular da Deicor disse não ter conhecimento já que a polícia não participou dessas negociações. Informações extraoficiais dão conta de que o primeiro resgate pedido foi de R$10 milhões e o último foi de R$800 mil.

A polícia acredita que a quadrilha que sequestrou Popó Porcino não é formada apenas pelos cinco integrantes identificados ontem. Há possibilidade de pelo menos outras cinco pessoas terem participado do sequestro. "Pela logística que foi montada não eram só essas cinco pessoas. Acredito que outras cinco pessoas façam parte desse grupo", falou Sheila.

Empresário estava acorrentado

A casa vermelha de número 42, com grades feitas de cano enchido com cimento e pintados de amarelo, em combinação com as janelas e o portão enferrujado de entrada, serviu de cativeiro para o jovem Popó Porcino e abrigo para a quadrilha que o sequestrou. A singela residência de terreno grande localizada na principal via da praia de Pitangi, distrito de Extremoz, tem varanda em formato de letra "L". Passando por uma rua de barro ao lado do imóvel e olhando por cima do baixo muro de tijolo é possível visualizar um grande matagal, e um lençol estendido.

Depois do tiroteio entre policiais e acusados ocorrido na tarde de ontem, manchas de sangue eram vistas em todo o alpendre, onde também havia um colchão, logo na entrada, e, nos fundos, roupas misturadas com toalhas, além de calcinhas estendidas no varal. Em meio à bagunça das vestes havia um papel com o Salmo 91 da bíblia cristã impresso em folha de papel A4 que tem em seus dois primeiros versículos dizeres que tratam da salvação através da confiança do Deus Cristo: "a segurança daquele que se refugia em Deus, aquele que habita no esconderijo do altíssimo, à sombra do onipotente descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e Nele confiarei".

Também havia uma rede azul e branca armada em um só punho, uma geladeira e cadeiras e mesa de plástico entre as roupas próximo a uma dispensa. A reportagem não teve acesso à parte de dentro da casa, mas observando o local pelas janelas de um beco lateral, que estavam abertas, foi possível ver poças de sangue próximo a um cômodo que pareia ser uma sala. Uma televisão, um colchão, e um prato com talher e comida no chão, perto de mais roupas e brinquedos dentro de um quarto com banheiro. Além destes compartimentos, era possível visualizar mais dois cômodos.

Crianças

A vizinhança não imaginava que neste imóvel estivesse sendo mantido refém o filho do empresário Porcino Júnior. Moradores da região contam que as pessoas que transitavam pela casa não tinham comportamento estranho e, inclusive, havia sempre crianças no local. Ao serem questionados sobre a quadrilha, os nativos de Pitangui sempre se referem a uma mulher loira e bonita, que possui uma grande tatuagem nas costas, e sempre passeava com uma cadela pequena pelas ruas do distrito. Esta mulher seria Bruna de Pinho Landim, 22.

A residência fica na principal via de Pitangui, por onde passa um grande número de carros e transportes alternativos, e onde também está a maioria das lojas do comércio local. Vilson Santos Bernardino trabalha em uma peixaria localizada quase em frente ao cativeiro e conta que por diversas vezes a tal mulher realizou compras no estabelecimento. "Domingo passado mesmo ela veio aqui comprar lagosta", afirmou. Vilson Santos diz que não se recorda de mais ninguém que morasse no local, e conta que agentes da Polícia Civil alugaram a residência que fica em frente da que foi utilizada para o crime, e inclusive realizaram um churrasco neste final de semana.

Os outros comerciantes do distrito também contam que a acusada realizava compras nos supermercados e padarias. Uma moradora que não quis se identificar afirmou à reportagem que as pessoas que moravam na casa realizavam churrascos nos finais de semana, e que no sábado passado havia crianças brincando em uma piscina de plástico. Ninguém na região afirmou manter qualquer contato mais íntimo com os sequestradores.

Bando tinha casa em Parnamirim

Em Japecanga, distrito de Parnamirim, uma outra residência foi locada pelo valor de R$ 300 por mês em um mini-condomínio com outras cinco casas e foi utilizada pela quadrilha. O lugar escolhido pelo bando foi em uma rua distante. Segundo pela última rua do bairro Cohabinal em direção ao Centro de Treinamento do América Futebol Clube, dobra-se à esquerda depois de uma antiga casa de show. Depois de passar por uma ponte, conta-se quatro ruas à direita.

O imóvel é recuado do nível das outras residências da vila. Fechada pela polícia, a casa de cor alaranjada só pode ser vista pela reportagem do lado de fora. O imóvel é o segundo do lado esquerdo de quem entra pelo portão de ferro da vila, arquitetada com com três casas de cada lado, em um terreno grande e de chão de barro. Uma tenda branca de plástico foi colocada na frente do imóvel para fazer sombra para o veículo Audi prateado dos moradores.

ROTINA

Segundo os vizinhos, moravam no imóvel um casal e a irmã do marido. Todos também confirmaram que não suspeitavam do trio. O metalúrgico Francisco Firmino Gonzaga Neto, dono da casa, conta que há dois meses foi procurado pelo homem que se identificou como Paulo Victor firmar o acordo de aluguel. Este seria Paulo Victor Lopes Monteiro, apontado pela polícia como líder do bando. Firmino diz que o suspeito afirmou ser de Fortaleza, e possuir caminhões alugados na capital cearense.

Os horários dos novos inquilinos da pequena vila eram variados, de acordo com os vizinhos. Uma mulher que não quis revelar a identidade fala que por vezes eles chegavam de madrugada, mas não mantinham um horário fixo. Com relação aos nomes dos três, alguns moradores afirmam que Bruna de Pinho afirmava se chamar Yasmin, e outros Cláudia. Paulo Victor se identificava com o mesmo nome, e a irmã dele seria "Holanda". Esta não foi detida na operação policial. Francisco Firmino diz não acreditar que os três mantivessem Popó Porcino preso no local. "Sempre tem gente por aqui, inclusive pedreiros trabalhando. Seria difícil.", explicou.

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