Proerd - Um PROGRAMA que deu certo
Clique abaixo e veja na íntegra a entrevista da Ten.Cel Margarida Brandão cedida ao Jornal Tribuna do Norte. Suas declarações mostram sua capacidade profissional, e acima de tudo sua sensibilidade de mulher que lida diariamente não só com filhos biológicos, mas também com filhos do coração. Leia! E confira o trabalho desta oficial competente e determinada que não esconde a satisfação de trabalhar em favor do bem.
"Tenho muita sede de ajudar" Ten Cel Margarida Brandão Fernandes |
Confesso que logo no início da entrevista já me emocionei. De repente estava conversando com uma policial militar que fugia completamente ao perfil de uma policial militar.
Uma pessoa carismática, uma mulher que se emociona ao falar do trabalho social que realiza a partir da própria Polícia Militar, um ser humano que contagia no seu trabalho de atuar diretamente com crianças e jovens em uma grande missão: alertar e prevenir contra as drogas.
Quando ingressou na Polícia Militar, a hoje Tenente Coronel Margarida Brandão Fernandes de Araújo, não imaginava que seu trabalho fosse dar uma nova e determinante guinada. De repente com um convite para atuar no Programa Educacional de Resistência às Drogas - PROERD, ela começou a desenvolver um trabalho social que entraria na história não apenas do Estado, mas na própria história de milhares de jovens.
Dez anos depois do início do trabalho no Proerd, coronel Margarida é hoje a comandante da Companhia Proerd. Comanda cerca de 240 policiais militares. Já contabiliza mais de 200 mil jovens que foram atendidos com o trabalho do Proerd. O que seria apenas um projeto ganhou novos rumos e se tornou muito mais amplo. Hoje a Companhia Proerd contempla o trabalho nas escolas e o Ronda na Escola, onde circula as escolas, além também da ação de inteligência. Ao falar do Proerd coronel Margarida não tem dúvidas: "é um filho".
Relacionar o Proerd com a própria família é natural para a coronel, afinal é no programa onde estão o marido dela, o major Artur, e o irmão. Mas o trabalho de coronel Margarida não fica restrito ao Proerd. Pelo contrário, as ações da Polícia Militar integradas a sociedade são muitas já contabilizadas pela coronel. "Estou feliz no que estou fazendo e cada diz que passa me realizo mais, pelos depoimentos, pelo sorriso da criança.
Você não tem noção o que é chegar em uma comunidade que nunca teve oportunidade de ver um helicóptero ou de receber uma informação e a gente colaborar através da palavra, do afeto, do amor, do carinho, o social mexe muito com o coração. Você não vê as obras sociais, mas você sente", destaca. A convidada de hoje do 3 por 4 é uma policial militar carismática, uma coronel que comanda não com o poder, mas com a liderança que adquiriu junto a sua tropa, uma mulher sensível, uma pessoa empolgada com o seu trabalho social; um ser humano apaixonado pelo que faz e empolgada a novos desafios em prol dos jovens.
Com vocês, coronel Margarida Brandão:
Proerd é desafio ou conquista?
Esse foi um projeto que surgiu a nível nacional. Não é um projeto do Brasil é um projeto norte-americano. O Rio Grande do Norte recebeu o Proerd há dez anos. Esse foi um projeto que entendeu que a polícia não precisava ser esse órgão ostensivo e repressor, ela precisava interagir mais, ter confiança da sociedade e estar junto da sociedade.
A polícia precisa estar junto também das incidências. Cada vez mais jovens de 14 a 20 anos estão morrendo pela questão das drogas e violência e a polícia era omissa a isso. Quando o Proerd chegou no Rio Grande do Norte nós trouxemos as melhores experiências, modificamos com o toque nordestino, com a arte, a cultura do nosso povo, dos nossos policiais e conseguimos o destaque (no país). Hoje trabalhamos o teatro, a dança.
Tive a oportunidade de escolher o profissional (que iria trabalhar no Proerd). Esse foi um acerto do Rio Grande do Norte. Abrimos um concurso dentro da corporação e a partir daí identificamos qual era o profissional que tinha o perfil adequado para esse tipo de ação, esse tipo de projeto. Foi através dessa tropa selecionada que hoje conseguimos um projeto que tem uma boa aceitação e bom desenvolvimento do projeto a nível de sociedade.
A população daqui (do RN) aceitou de braços abertos. Esse projeto começou com três (policiais), era um programa. Quando eu comecei era eu e mais dois policiais. Devagarzinho fomos formando mais 20, mais 30, mas tudo com muita dificuldade porque é um paradigma a ser quebrado: o policial ir para sala de aula? Ele vai deixar de ser policial? Isso foi muito difícil. Até hoje nós sofremos preconceito da nossa própria corporação.
Mas como a sociedade abraça de paixão (o Proerd) e quer mais polícia perto, nossa sorte é que atingimos às crianças. Hoje conseguimos levar segurança pública para cada uma das pessoas. Esse é um grupo muito comprometido. E nós não levantamos bandeira política de ninguém. Nossa bandeira é o Estado do Rio Grande do Norte (ela mostra a bandeia do Estado que está na farda). Por isso que entra governo e sai governo e o programa continua. A questão das drogas é uma guerra de todos. Todos precisam estar envolvidos.
Qual a dificuldade de realizar o Proerd?
A gente só não atende mais (em 10 anos foram atendidas mais de 200 mil crianças) em razão de mobilidade, de material didático. No início foi muito complicado. No início fazíamos cartilha de papel jornal com a letra pequena.
A dificuldade foi grande e aos poucos fomos aprendendo os caminhos e crescendo. Hoje temos parceria com o Governo Federal. Trabalhamos com crianças de seis anos, de cinco anos. É o policial que está levando essa informação.
Ainda falta muita coisa positiva para ter a rede fortalecida no Estado, as dificuldades são muitas porque faltam recursos. A política nacional é difícil para região Nordeste. Grande parte da destinação dos recursos vai para Sul e Sudeste.
Sua formação é de policial militar, mas a senhora enveredou por um trabalho social. Como conciliar a sensibilidade do social com a rigidez da polícia militar?
Eu sou filha de professora, também sou professora. Todos na minha casa trabalham na área da educação ou tem o foco na educação. Com a segurança pública ocorreu que ela (a Polícia Militar) entendeu a necessidade de transformação. De modo geral a polícia entendeu que precisava mudar, precisava ouvir, conquistar.
Foi com essa abertura que tivemos facilidade de captar a necessidade e construir junto com a comunidade esse programa (o Proerd). Quando o projeto (Proerd) chega nós não colocamos logo no bairro. A gente vai até a comunidade, faz todo diagnóstico, conversa com os alunos, ver como eles querem, como gostariam de aprender o currículo.
A partir desse diagnóstico a gente aplica o projeto. Isso tudo é feito através de construção pedagógica verdadeiramente. O que mais me deixou feliz foi quando o Ministério do Desenvolvimento Social convidou a Polícia Militar para fazer parte da construção do projeto social dos Jogos Panamericanos (que ocorreram no Rio de Janeiro).
Naquele momento eu pensei: antigamente a polícia ficava do lado de fora fazendo policiamento e hoje estão entendo nossa experiência de trabalho, de respeito com a populações, perceberam que nós precisávamos participar. A abertura do social foi muito importante para segurança pública.
O que lhe motivou a ingressar no trabalho do Proerd?
Exatamente porque era um programa educacional. Como eu já tinha toda afinidade com a educação, sou professora, gosto de ensinar, quando surgiu a oportunidade ingressei. Mas não tinha noção do alcance social que o programa poderia chegar, como hoje chegou.
Essa transformação, a construção da geração, os depoimentos das famílias, os resultados que nós temos são muito marcantes. Em cima das experiências de outras famílias nós vamos para outras comunidades, compartilhamos e chegamos a essas gestões.
É importante isso porque além do currículo também temos um curso para família. A defesa toda do Proerd também chega aos pais. Nós atendemos a rede pública e particular. E é na particular onde nós temos os maiores problemas.
Além do trabalho todo do Proerd hoje temos um pelotão do ronda escolar. São duas vertentes hoje em apoio total e
E ainda temos o setor de inteligência, que hoje já desbancou muitos grupos de torcida organizada. A gente tenta cuidar como se fosse um filho, o mais importante é que os policiais têm isso aqui como filosofia de vida.
Impressiona-me a forma como a senhora fala do Proerd, com uma emoção muito grande.
Quando eu conheci o programa fiquei contagiada e vi que era aquilo que eu queria para mim. Eu sou mãe de duas filhas, a minha maior satisfação profissional foi um presente de Deus. Quando Luíza e Larissa (filhas dela) falam "minha mãe é coordenadora do Proerd" para elas é motivo de muita alegria e para mim mais ainda.
Hoje eu trabalho aqui com meu esposo (major Artur Emílio). Ele é subcomandante da Companhia. Digo sempre que eu mando em tudo (risos), claro que é brincadeira. Aqui é muita família, é um grupo muito unido que está sempre querendo a excelência do projeto, do trabalho.
Nesses dez anos de Proerd, qual a maior lembrança que a senhora tem?
É de uma criança do município de Cruzeta. Esse fato ocorreu há oito anos. O pai dessa criança tentou suicídio próximo a formatura (do Proerd). Na formatura essa criança chegou para mim e veio com o pai, e ele (o pai) disse que a filha havia salvado a vida dele. A filha dele fazendo o Proerd incentivou o pai a buscar ajuda e trabalhou a temática em casa.
Ela conseguiu resgatar o pai e o pai dela hoje está sem beber há quase nove anos. Em relação ao Proerd profissionalmente algo que me marcou muito foi a primeira formatura, as crianças foram para o Machadinho e todo mundo participando, a enegia que vem do trabalho eu pensei: era isso que eu queria e iria me dedicar ao projeto.
A senhora já teve outras experiências com o social, atuando como policial militar no Rio de Janeiro, na atividade social do Panamericano. Qual a diferença da criança que a senhora encontrou no Rio e a criança que o Proerd encontra aqui?
Nenhuma. Não há diferença nenhuma. Todas são crianças, querem ser ouvidas. A grande dificuldade da família e da sociedade de forma geral é oportunizar essa fala, a criança quer participar, ter opinião. Muitos pais exigem determinadas coisas, cobram e não dão exemplo.
Tribuna do Norte
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