quarta-feira, 9 de março de 2011

Porque roubam as crianças?

Nas primeiras vezes, as justificações dos mais pequenos são descomplicadas: "Trouxe para casa porque encontrei no pátio da escola" ou "foi um colega que me deu, porque já não queria".

Mas quando acontece com frequência é inevitável: os pais ficam angustiados. "A inquietação principal reside no facto de não saberem o que levou a criança a praticar o acto, qual a sua dimensão, há quanto tempo isso acontece e o seu significado", reconhece Mário Cordeiro.

 
Dúvida principal é  sempre a mesma. A criança está a passar apenas por uma situação transitória dentro dos parâmetros da normalidade do desenvolvimento infantil ou o acto é o prenúncio de uma vida de delinquência?

Os especialistas são unânimes e garantem que é "normal" que a criança se aproprie de uma coisa pela qual se interessa. "E isso não pode ser considerado propriamente um roubo, pelo menos até que ela tenha idade suficiente para perceber que o objecto de que se apropriou é de outra pessoa", explica Rita Jonet. Esta noção de sentimento de posse e de transição de posse surge entre os três e os cinco anos. Rita Jonet defende que só se pode falar verdadeiramente em cleptomania a partir dos sete ou oito anos "porque aí já há maior consciência do acto".

Mas o que leva as crianças a roubar?

As drogas, a questão Social e econômica. "Podem ser também que  eles desejem ter o mesmo que tem um irmão, uma irmã, ou amigos perante os quais se sentem desfavorecidos". sugere Mário Cordeiro. Mas há outras razões:

"Para se fazerem valer perante os colegas, já que roubar pode ser entendido como uma atitude de liderança ou coragem", "para poderem ter um presente para dar e assim conseguirem fazer amigos ou tornar-se populares" ou por causa de "predisposições genéticas e alguns factores sociais e económicos", como enumera o pediatra Paulo Oom.

Como lidar com o problema?

Quando os pais percebem que a criança tirou alguma coisa, o primeiro passo deve ser explicar-lhe "muito concretamente e explicitamente que roubar é errado", recomenda o pediatra Mário Cordeiro. E não basta obrigá-la a devolver o objecto furtado. Deve ser sempre a criança a fazê-lo, "mas os pais devem ajudar, porque se trata de um processo que a envergonha e humilha".

O ideal é que os pais falem previamente com a pessoa lesada, de maneira a negociar uma boa dose de compreensão e uma reprimenda à altura. Mas o mais importante de tudo é que a criança não beneficie, em nenhuma circunstância, do objecto roubado, de forma a perceber que "o crime não compensa".

A repreensão dos pais tem de ser sempre firme, independentemente de se tratar de um objecto valioso ou de uma ninharia. "Porque a gravidade é a mesma e a escala de valores é muito pessoal e falível", justifica Mário Cordeiro. Um pequeno brinquedo tirado a outra criança pode ser considerado uma ninharia pelos pais, mas o seu desaparecimento pode criar grande angústia a quem ficou sem ele.

 
Convencer um filho a devolver um objecto roubado pode revelar-se uma tarefa árdua. "Muitas vezes, o objecto torna-se o mais importante de todos para a criança e é difícil convencê-la a abdicar dele sem que ela se sinta, também, roubada", adverte o pediatra. Ainda assim, é preciso fazer com que entenda que "roubar não é aceitável, segundo os valores da sociedade, da tradição e da família em causa". Pode acrescentar-se que, quando alguém se apropria de uma coisa de outra pessoa, o lesado "fica sem o objecto e vai sofrer por causa disso".

Exemplos práticos A noção de propriedade pode ser transmitida de várias formas, com exemplos práticos, utilizando utensílios, bonecos, brinquedos e outras coisas que sejam da criança. Deve-se interrogá-la: "Como te sentirias se alguém viesse e roubasse as tuas coisas?"

Mais do que assustar e repreender, interessa pô-la perante dilemas morais e levá-la a assumir a responsabilidade dos seus actos. "Principalmente demonstrar-lhe que tudo na vida tem consequências para o próprio e para os outros", resume Mário Cordeiro. Igualmente importante é que os pais não centrem a situação neles e "não vejam como o maior problema a vergonha de ser pais de um ladrão. Deverão antes interrogar-se sobre as razões pelas quais o filho terá cometido esse erro", recomenda Mário Cordeiro.

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