sábado, 8 de outubro de 2011

Paciente com câncer terminal realiza
 desejo e se casa na capela do hospital

Cabelo, maquiagem, docinhos, salgados e decoração. Às 13h, tudo estava pronto. Marinalva Chaves dos Santos, 43 anos, esperava ansiosa para entrar encontrar o noivo José Antônio Escórcio, “Não posso atrasar, ele já está me esperando”, dizia, minutos antes da cerimônia.

A emoção estava nos olhos dos convidados, parentes e daqueles que visitaram a capela do Hospital de Apoio de Brasília (HAB), na tarde de ontem. Embora os preparativos fossem os mesmos, esse não era um casamento comum. José, portador de câncer no pâncreas, está em fase terminal.

Mas a doença não o impediu de concretizar o grande sonho: casar-se com a mulher com quem compartilha a vida há mais de duas décadas. “Ele me pediu em casamento há 15 dias. Sempre foi o sonho dele, e agora conseguimos concretizar”, contou Marinalva. Ao dizer sim, a dona de casa e mãe de dois filhos frutos dessa união mostrou que, ao contrário da vida, o amor não é impermanente.

José sempre acreditou que faltava oficializar o matrimônio perante a lei. Em novembro do ano passado, quando completou 54 anos, o pedreiro havia planejado uma festa para comemorar a união, mas, devido ao pouco tempo disponível, teve que adiar a cerimônia.

Continue lendo esta linda história de amor, que em razão da força da doença possivelmente terá que ser interrompido a qualquer momento.

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Há quatro meses, descobriu que tinha câncer. Iniciou o tratamento no Hospital de Base de Brasília, mas foi transferido para o HAB depois da rápida evolução da doença. Diante da situação, não quis perder a chance de levar a companheira ao altar. “Tudo começou com uma queimação na garganta, azia e enjoo. Nunca imaginamos que seria assim. Temos muitos planos”, enfatizou Marinalva.

O amor do casal e o pedido de casamento formulado na ala para doentes terminais emocionaram funcionários e voluntários. Para conseguir organizar uma cerimônia em menos de uma semana, eles concentraram esforços. Todos contribuíram com doações e dedicação para que tudo desse certo.

A produção

Quem organiza um casamento sabe que marcar uma data no cartório pode demorar dois meses ou mais. Nesse caso, porém, advogados entraram com pedidos de urgência e conseguiram acelerar o processo. O vestido foi doado, bem como a maquiagem e o dia de noiva (maquiagem, salão de cabeleireiro, etc). José estava impecável, de terno preto e cabelos penteados. Às 13h17, a juíza de paz do 2º Ofício de Registro Civil de Brasília, Vera Shirley Ferreira, disse a frase mais esperada por todos os presentes: “CEu os declaro casados”.

Um beijo selou a união e o cumprimento do desejo de José. Para Marinalva e a família, as lembranças dos momentos que passaram juntos e viverão para sempre. “O câncer já evoluiu muito, e esta é uma forma de realizarmos um último pedido. Ele queria muito o casamento. Entramos em contato com os voluntários e com nossa equipe e eles fizeram acontecer”, disse a assistente social do HAB, Soraia Diniz.

Esse é o quarto casamento em circunstâncias semelhantes realizado no hospital. De acordo com o diretor-geral da instituição, Alexandre Lyra, é um evento que humaniza o tratamento e minimiza os momentos de tristeza dessas famílias. “Procuramos oferecer um atendimento especial. Somos treinados para dar conforto aos pacientes nos últimos momentos de vida”, destaca.

Emocionada, a filha do casal, Estela dos Santos Escórcio, 21 anos, esperava ansiosa pelo arremesso do buquê da mãe. Quando a noiva lançou as flores, o arranjo foi direto para as mãos de Estela. “Se eu puder casar, quero que seja assim, uma relação tão feliz quanto a deles”.

A esperança também tomou conta do noivo: “Jamais esperaria passar por essa situação de estar sentado em uma cadeira de rodas. Mas às vezes as pessoas têm que passar por situações difíceis. Hoje, estou feliz e agradeço a todos que colaboraram com a festa”.

Lembranças

Conquistar Marinalva não foi nada fácil para José Antônio Escórcio. Eles se conheceram em uma casa de família onde ela trabalhava como doméstica e ele prestava serviços de pedreiro. À época com 21 anos, a moça gostou do trabalhador, mas fez jogo duro. “Já gostava dele, mas demorei para aceitar o convite”, lembrou Marinalva.

O primeiro encontro foi suficiente para selar a união. Da relação nasceram Estela, 21, e Eduardo Escórcio, 14. José tem outros três filhos de relações anteriores. Ele viveu com as mães deles, mas casar mesmo, só com Marinalva. “Não casamos antes porque o tempo passou. Depois que começamos a morar juntos, os filhos nasceram e fomos deixando o sonho para trás”, disse a noiva. Mas sonhos existem para ser realizados, e tanto Marinalva quanto José Antônio aprenderam que sempre é tempo.

TN

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