domingo, 2 de maio de 2010

Forças Armadas dispensam 80% dos jovens do Estado do RN

Marcelo Hollanda repórter
Houve um tempo, não muito distante, em que a obrigatoriedade do serviço militar dividia corações e mentes nas diferentes classes sociais. Enquanto as famílias pobres do interior rezavam para ver seus filhos incorporados, e longe da miséria, os da classe média – com muitas exceções, é verdade – oravam constritos pelo milagre que os livrassem das rigorosas obrigações da caserna.

Para incorporar na armada, os jovens passam por rigorosos testesAfinal, as penalidades por não se alistar no prazo são pesadas - além de multa pelo tempo proporcional ao atraso, o faltoso não pode tirar passaporte, prestar concurso, matricular-se em instituição de ensino e assinar contratos com a administração pública.
Já os selecionados que não comparecem à unidade a que foram designados são considerados “insubmissos”, ato que configura crime militar sujeito a pena de reclusão de seis meses a dois anos. É quase assim desde 1908, ano em que foi criada a obrigatoriedade do serviço militar no Brasil.

Desde o começo da década, porém, essa realidade vem mudando na velocidade da luz. E embora o anacronismo do alistamento obrigatório continue - como também o do voto obrigatório -, entrar no Exército, Marinha ou Aeronáutica, hoje, é um privilégio quase idêntico a ser aprovado num concurso público federal.

Desde que o Ministério da Defesa assumiu a condução do serviço militar, o Exercito, que já possuía um processo de seleção considerado muito eficiente, passou a coordenar de modo unificado a admissão de jovens para as três armas – ele próprio, a Marinha e a Aeronáutica.

Para se ter uma ideia da dificuldade que é poder envergar um uniforme, só na região metropolitana de Natal, anualmente, por volta de 12 mil jovens se alistam nas Forças Armadas – mas apenas dois mil, em média, ou 84%, são selecionados.

Isso mesmo – 10 mil são excluídos, com a única obrigação constitucional de ficarem na reserva até os 45 anos de idade, podendo ser convocados a qualquer tempo em caso de emergência que envolva a segurança nacional.
Embora muitos questionem o serviço militar obrigatório, na prática, servir às Forças Armadas abrem portas que a sociedade brasileira ainda fecha para a grande maioria dos jovens.

Para o recruta, é um trabalho temporário de 11 meses, com direito a soldo equivalente a um salário-mínimo, alimentação, plano de saúde, vale transporte e fardamento. Quantas empresas privadas fornecem tudo isso? Ou melhor, quantas empresas informais – no caso específico do Rio Grande do Norte – fornecem isso?

Com a consultoria do coronel Francisco de Assis Xavier Reis, assessor parlamentar do Comando da 7ª Brigada de Infantaria Motorizada, em Natal, esta reportagem vai mostrar, passo a passo, como funciona o processo de seleção de um novo recruta. E vai explicar qual a diferença entre o Militar Profissional (EP) e os EVs (Efetivo Variável) que são a maioria dos recrutas alistados e dispensados todos os anos. E a luta de muitos cidadãos graduados para se manter dentro dessa organização moderna e em permanente evolução que é o Exército Brasileiro.

Quem reprova é o software, diz coronel

Tudo começa no ato do alistamento, que em Natal pode ser feito na Central do Cidadão da Cidade Alta e do Alecrim. A partir daí, toda a informação referente a alistamento vai para a 7ª Região Militar, em Recife. Ali, tem início uma peneira aleatória produzida a partir do próprio sistema que armazena os nomes dos alistados. É nesse processo que cerca de seis mil jovens são dispensados todos os anos. “Não é o Exército que dispensa, é o software programado para acolher as informações, mediante uma programação específica”, faz questão de salientar o coronel Reis.

Os dispensados estão entre os que são chamados de o “grande excesso”. Em um ano, os dispensados podem ser aqueles que caírem entre os números pares e, em outros anos, os entre números ímpares. Explica o coronel Reis que, no momento em que o jovem faz o seu alistamento, ele recebe o Certificado de Alistamento Militar. O CAM possui um Registro de Alistamento, o RA, que é o número do processo de seleção.
Entre os principais motivos pelas dispensas de milhares de alistados está um óbvio - o custo. “Afinal, se eu só vou incorporar dois mil, não há a necessidade de passar 12 mil jovens pelo processo de seleção, que prevê além de exame médico, testes vocacionais”, explica o coronel.

Um calculo superficial dá a ideia do custo de seleção por recruta. Ele passará por oftalmologista, exames laboratoriais e testes vocacionais para direcioná-lo a futuros serviços dentro da corporação. Um cálculo superficial indica que, só nesse momento, serão gastos R$ 800,00 a R$ 1.000,00 por candidato aprovado na primeira fase.

Passo seguinte

Concluída a primeira peneirada, os seis mil que permanecem no processo passam então por uma comissão de seleção formada por oficiais e sargentos do Exército, Marinha e Aeronáutica. Ela funciona anualmente no 16º Batalhão de Infantaria Motorizado, em Natal.

Todos os alistados, incluindo os dispensados, têm no verso do Certificado de Alistamento Militar, em campos quadriculados, os carimbos da sua situação. Esses campos, por assim dizer, definem todo o processo pelo qual os jovens passam até sua incorporação ao serviço. Os dispensados terão essa condições carimbada já no primeiro quadro. Quem sobrevier à dispensa aleatória terá pela frente um teste vocacional que definirá a aptidão profissional do candidato para que ele seja, uma vez aprovado, distribuído para uma atividade correta dentro do quartel. Essa etapa vai dizer se o candidato será um bom motorista, cozinheiro, operador de central de tiro ou operará com computadores.

Enquanto isso, todas as unidades do Exército, Marinha e Aeronáutica já informaram ao sistema do serviço militar de Recife a necessidade de soldados a serem incorporados. São códigos que enquadram os candidatos por áreas de habilidade ou competência. O padrão C2, por exemplo, define aqueles com habilidade para serem motoristas.

Casando às necessidades com as disponibilidades é que os candidatos acessam o serviço militar em uma das três armas. Embora eles não possam antecipar em qual deles irão servir, os candidatos podem indicar sua preferência ainda na primeira fase da seleção. E ela será levada em consideração na peneirada final.

FONTE: Tribuna do Norte

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